Entre 1883 e 1886, a Filoxera alastrou aos vinhedos da região de Lisboa, onde os concelhos de Alenquer e Torres Vedras eram os maiores produtores de vinho. Nesta região, o danoso inseto que se alimentava do suco das raízes das videiras, encontrou adversários à altura. Pelos seus contributos nesse combate são sobejamente conhecidas as figuras do Sebastião José de Carvalho, 1º Visconde de Chanceleiros e de António Lopes de Carvalho, ambos naturais de Alenquer. A técnica por ele introduzida veio a revelar-se indispensável até aos nossos dias e a utilização de porta-enxertos de Bacelo americano mantém-se na atualidade.
A praga na região
Foi no verão de 1882 que se detetaram as primeiras vides contaminadas em Alenquer. A praga espalhou-se rapidamente por toda a região, graças à grande agressividade da filoxera e da pouca eficácia dos processos de combate usados na época. A região assistiu a uma completa transformação da paisagem, com enormes áreas de vinha a serem abandonadas.
É neste clima de catástrofe que emerge Sebastião José de Carvalho. Sendo um dos maiores lavradores de Alenquer, e vendo a agressividade desta doença e a incapacidade dos
processos de combate então utilizados, dedicou-se afincadamente a este problema, tornando-se num lutador sempre alerta na refrega do combate à filoxera.
Com as suas vinhas profundamente atingidas pela filoxera, recorre aos limitados meios que a ciência lhe oferecia. Experimentou os tratamentos químicos com a exatidão e os cuidados exigidos. Introduziu mesmo algumas alterações técnicas, ditadas pelo seu bom senso de velho agricultor.
Luta com sabor a vitória
Sebastião José de Carvalho tentou várias soluções. Assim, no Inverno de 1887 submergiu as suas vinhas de várzea “com as águas dos regatos que lhe corriam próximo”. No ano seguinte, estas cepas já apresentavam “boa frutificação sem que as raízes estivessem infestadas de filoxera”… Os resultados foram mais animadores, mas ainda não os desejados. Como último recurso, arrancou o que restava das suas vinhas e reconstruiu os seus vinhedos a partir de bacelos americanos. Obteve novos vinhedos, não já de pé franco, mas constituídos por cepas, indivíduos mistos, com parte subterrânea americana e parte aérea europeia, atitude que “foi classificada de arrojo sem limites, e todos viram nela um completo desastre”. No entanto ao fim de algum tempo, surgiram os sinais de que a praga da filoxera estava debelada. O exemplo do Visconde de Chanceleiros frutificou e, por todo o lado, as novas vinhas nascidas do bacelo americano cresceram sadias e produtivas. O País deveu-lhe a salvação da sua principal riqueza. A técnica por ele introduzida veio a revelar-se indispensável até aos nossos dias e a utilização de porta-enxertos de Bacelo americano mantém-se na atualidade.